Sheila Juruna pertence ao grande povo juruna e é componente do Movimento Xingu Vivo, símbolo da resistência à construção da Usina de Belo Monte. Mulher e guerreira indígena, tem levado o grito do Xingu Vivo em atos, palestras e debates pelo Brasil, sempre defendendo as florestas, os rios e a vida na Amazônia. No dia 30 de junho, Sheila foi homenageada na Assembleia Legislativa do Pará com a medalha de Honra ao Mérito. Durante a cerimônia, concedeu entrevista exclusiva ao jornal
A Verdade – Faça um breve relato sobre sua etnia.
Sheila Juruna - O povo juruna é um povo que vem sofrendo muito em decorrência dos grandes projetos, principalmente na época dos grandes seringais, com a abertura da Transamazônica. Nós sofremos impacto direto com a perda do nosso território e com a dizimação do nosso povo, que foi dado como extinto. A principal luta no momento é a questão do nosso território, que está para ser demarcado e reconhecido, mas é uma situação que tem sido prolongada devido à falta de interesse do governo em resolver.
Quais os principais problemas enfrentados pelos indígenas com a construção da usina de Belo Monte?
A questão de Belo Monte já vem sendo discutida há muitos anos, e nós povos indígenas da região nos sentimos ameaçados diretamente com esse empreendimento porque trará muitos impactos ambientais e sociais para nosso povo, principalmente nossos parentes jurunas, que moram na boca grande do Xingu. Serão cem quilômetros de rio seco, e, além do impacto ambiental, haverá um impacto direto sobre nossa população do ponto de vista social e cultural. Já estamos sendo ameaçados diretamente na nossa área que não é demarcada, sofrendo com medo de as empreiteiras invadirem nossas aldeias e outras consequências graves desse empreendimento.
Qual o interesse do governo federal em construir essa usina?
O governo federal demonstra que tem vários interesses além do crédito político, interesse no capital – e por detrás de Belo Monte tenho certeza de que estão as grandes mineradoras, que estão aí para tirar o que é nosso, tirar nosso minério, tirar as nossas riquezas que estão localizadas na volta grande do Xingu.
Como os povos indígenas esperam impedir a construção da usina?
Para poder impedir a construção, só com muita luta e com muita união entre todos os povos – não só os povos indígenas, mas todos os ribeirinhos, agricultores, pescadores, todos aqueles que estão sendo impactados diretamente com esse megaprojeto. Juntos poderemos impedir, com certeza, esse empreendimento.
Fernanda Lopes e Renan Lobo, Belém
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