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quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Amores Brutos

Um passeio pelo mar de Garopaba e da Praia do Rosa, em Santa Catarina, para ver as doces, lindas, sensíveis, emocionantes, brincalhonas e um dia quase extintas baleias-franca

                                                                                                                    Foto: Alice Martins

A linda Praia do Rosa, visitada por surfistas e baleias-franca baleias-franca

Quando crianças, aprendemos que a baleia é o maior mamífero do mundo. Difícil é entender como a maior da classe decidiu viver longe de todos os outros colegas, embaixo d’água. Depois, os mais curiosos descobrem que há 83 espécies de baleia no mundo. Dessas, três visitam o Brasil. A bryde, que nada pelas latitudes de São Paulo no verão; a jubarte, que viaja do Polo Sul à costa baiana; e a baleia-fanca, que, de julho a novembro, faz uma rota mais curta, chegando bem perto de Garopaba e da Praia do Rosa, em Santa Catarina. Ali se reproduzem, aproveitando as águas mornas. Nós, mais crescidinhos, podemos então fazer um passeio emocionante, justamente para ver essas baleias.

Até 1986, nadar em Garopaba não era bom negócio para as fancas. Elas morriam ali. Com 40 toneladas de peso em média (mas podendo chegar a 100!) e até 17 metros de comprimento, dela muito se aproveitava: ossos, barbatana e, especialmente, gordura e óleo, usados na iluminação pública e na produção de argamassa. Era tal a carnificina que a espécie correu risco de extinção. Então a caça foi proibida e, em 2000, surgiu uma área de preservação marinha. Antes, no inverno de 1999, o argentino Enrique Litman começou a levar turistas para ver as baleias. Hoje, se há uma boa razão para ir a Garopaba no inverno e na primavera, é justamente para vê-las.

O tempo nem sempre ajuda. No dia do meu passeio, o céu estava azul, mas o vento cortante doía. Meu tour seria com Enrique, que hoje não está mais sozinho na promoção do passeio.

Antes de pegar o barco, fui de carona com ele do Rosa a Garopaba, de onde sairíamos. Falante, ele estava feliz com o número de baleias que havia visto na véspera. "A Michael Jackson aparece todo dia", disse. Eu não atinei direito com o que dizia, mas depois ele explicou melhor. "É que ela é cheia de manchas brancas e não para de pular." Com isso, parecia difícil que, ao fim de duas horas de navegação, eu não visse os animais. Mas não custava perguntar: "Há risco de não vermos nada?" Enrique suspirou e disse: "Baleias são como garotas. Precisamos paquerá-las".

As baleias-fanca fazem um esguicho em forma de V. Também têm calosidades sobre a cabeça e dão pequenos saltos. Seu nome em inglês é right whale. É que ela é a baleia "certa" para ser abatida: nada por áreas costeiras, é dócil, boia ao morrer. Tudo isso aprendi na palestra de 30 minutos que a bióloga Mônica Pontalti, do Instituto Baleia Franca, ONG da qual Enrique é presidente, ministra antes do passeio. Não minto se disser que me sentia em um filme que, à medida que o roteiro transcorria, ia criando cada vez mais empatia entre mim e a baleia.

Corta para um flashback. Naquela mesma manhã, eu já havia visto, da praia, uma delas. Eu e a fotógrafa Alice Martins madrugamos para ver o sol nascer no Rosa. Chegamos à praia no momento em que o astro começava a banhar as ondas com tons alaranjados. As cores da aurora já eram um espetáculo, mas melhor ficaram quando uma mancha preta surgiu no mar para logo desaparecer. Uma baleia. Ela então começou o seu show, o nosso show particular. Nadadeira para cá, cauda para lá. Enquanto Alice se desesperava com os cliques, enviei um "até logo" mental à gigante.

De um pequeno bote alcançamos o barco. Era uma Babel: ali estavam dois hondurenhos, três ingleses, três americanos, três fanceses e dois garopabenses - provavelmente os mais difíceis de entender. Todos de parca amarela, boa para enfentar o vento. Motores ligados, girávamos a cabeça como em um jogo de tênis. 

Fonte: Planeta Sustentável

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